Com essa frase, convido você, prezado leitor a fazer uma viajem ao metafórico reino Saramaguiano. Este trecho do livro de José Saramago “Ensaio sobre a cegueira” nos dá uma amostra da parábola brilhante e ilustrativa produzida pelo português vencedor do Prêmio Nobel. O livro nos remete a uma atmosfera de caos, sujeira, mesquinhez, violência, ocasionados pela epidemia de cegueira que atinge os moradores daquela cidade. Ao serem confinados pelos governantes, os humanos contaminados extrapolam sua humanidade se tornando animais, perdendo seu elo empático, deixando sua violência e truculência explícitos.

Essa aura me remete ao som Psychosocial da banda estadunidense Slipknot, uma pancadaria muito bem “organizada”, contundente, assim como o romance. Traz à tona o som de algumas bandas de nossa região que em nada ficam devendo, caso das bandas MP11, Modorrah, Kamala, que tem em seu bojo o DNA da velocidade e peso descomunais. Todas essas bandas citadas, produzem um som que está diretamente ligado às parábolas do livro, assim como o som do Slipknot, que também cita diversos trechos falando da tal “cegueira” moderna. Cegueira que impede que as pessoas se ajudem, se unam por justiça e uma vida mais pródiga para todos. Numa produção da Central do Rock que trabalhei, tive que usar o banheiro da igreja no centro da cidade. Ao adentrar aquele banheiro, tive a exata noção do que poderia ser o cenário descrito no livro. Verdadeiro caos, que ainda hoje me faz lembrar o odor.

Oras, porque você está citando isso? Muito simples. Aquele banheiro é daquela forma, porque lá é o único lugar que as pessoas em situação de rua têm para usar. Muitas gerações do poder público “lidaram assim” com a situação dessas pessoas, achando que com isso (o fato de não construírem um banheiro público) manteriam os moradores de rua afastados das áreas centrais da cidade. Detalhe final, o evento, a pedido dos lojistas, não contou com banheiros químicos também por conta da presença da população de rua. Chega de cegueira!